Dhan Ribeiro
Narrativas - Fotografia - Comunicação
A Janela
A tarde se acinzenta lá fora... St Donatts Rd, em New Cross. Uma rua como tantas outras milhares de ruas londrinas, emolduradas por sisudas casas vitorianas, construídas para abrigar a efervescente classe operária que fluía de todos os cantos do gasto Império, para azeitar as
engrenagens da Revolução Industrial. Um tempo que foi história e hoje se vem fazendo estórias de intimidades esperançosas para milhares de jovens que acreditam ainda encontrar nessas terras um espaço onde seus sonhos podem se fazerem realidades.
Lá fora, pessoas caminham, pedalam, dirigem. Uns vagarosamente, outros mais apressados – o tempo londrino é preciso e não espera. Tempo que circula em alta velocidade, conectando a cidade de norte a sul, leste a oeste. Uma teia underground, que nos automatiza e nos distancia
da luz do sol.
Os vizinhos que por ali circulam são desconhecidos. O olho que observa pela janela apreende apenas que são, em sua grande maioria, estrangeiros: africanos, latinos, asiáticos, europeus.
Inúmeras faces, traços e feições.
Da minha janela, que não é minha janela, mas um temporário portal dessa acolhedora casa, lanço meu olhar e compreendo o grande esforço que a natureza faz para nos miscigenar e maturar nossa compreensão para com a diversidade do planeta Terra. Casa sagrada, cuja
janela nos lança a um espaço cósmico inimaginável.
Ah! Não poderia esquecer de contar: na janela, a cortina baila com o vento. Vocês podem senti-lo. Nesse dia, ele está suave, sussurrando lembranças de um tempo que se tornou minha memória.
The window
Outside in the afternoon is graying out to St Donatts Rd in New Cross. A street with so many thousands of London streets framed by grim Victorian houses. They were built to house the effervescent working class that flowed from every corner of the spent empire to oil the gears of the industrial revolution. A time that was history and today is making stories of hopeful intimacies for thousands of young people who believe they still find in these lands a space where their dreams can come true.
Outside people walk, cycle, drive. Some walk slowly, others take hurried steps, for London time is accurate and not waiting. It circulates at high speed, connecting the city from north to south, east to west. An underground web that automates us and keeps us away from sunlight.
The neighbors that circulate outside are unknown. The look from the window recognizes that the vast majority are foreigners: Africans, Latinos, Asians, Europeans. Numerous faces, features and features.
From my window, which is not my window, but a temporary portal of a welcoming home, I glance at it and understand the great effort that nature makes to mingle and mature our understanding of the diversity of planet Earth. Sacred house whose window throws us into an unimaginable cosmic space.
AH! I couldn't forget it: in the window the curtain flutters in the wind. You can feel him. That day he was soft, whispering memories of a time that became my memories.